terça-feira, 14 de agosto de 2012

Geração Sem Fio

  Eu sou mais inteligente do que o governo quer que eu seja (ou assim me convenceram meia dúzia de professores do ensino médio). Sou menos inteligente do que o necessário pra fazer alguma diferença (mas essa parte eu ignoro). Eu não sei me expressar bem, não pense que você ganhou essa discussão. Você fez mestrado nessa área? Não, eu adoro reality shows. Eu sou ativista em todas as causas sociais. Mas como eu detesto pegar ônibus! Desprezo futebol porque ele aliena as massas. Mas que season finale foi aquela desse seriado?
  A baixa estatura da maioria das pessoas que caminha na rua me irrita. Talvez eu seja da altura delas se eu baixar um pouco a cabeça. Eu tenho opinião formada sobre muitos assuntos. Não, eu não tenho o hábito de  ler texto que me tomem mais de dez minutos. Mas claro que eu leio livros - não sei citar nenhum agora, mas escuta essa música, é muito melhor do que a que pessoal todo escuta. Sei a letra da abertura da novela.
  Eu sou a favor das cotas porque a vida é sim injusta pra todos, mas em graus diferentes. Eu não votei na última eleição. Assassinato é o pior crime que se pode cometer. Só sou a favor do aborto em caso de violação à liberdade sexual. Pessoalmente? Eu acho que deveríamos ter armas nucleares. Não, eu jamais daria uma pistola de brinquedo pro meu filho.
   Tenho muito cuidado com o que sai na imprensa, não confio nos meios de comunicação do nosso país. Ah, assisti sim o caso daquele criminoso. Por mim iria pra cadeira elétrica. O Carnaval é um absurdo, vende essa nossa imagem promíscua pro resto do mundo. Eu sei qual bar tem a melhor cerveja.
  Meu gosto pra artes é meio diferente do seu, você não vai gostar do que eu gosto. Do outro lado do Atlântico eu me sentiria numa terra de clones. O Petróleo deveria ser nacionalizado e estatizado. Meu sonho é abrir meu próprio negócio. Eu não sou muito de reclamar, mas o que mais incomoda na sociedade atual é a hipocrisia. O seu pecado é bem pior do que o meu, mesmo quando são iguais.
  Eu não vejo moda como uma forma de arte. Não existe arte quando se faz em escala industrial. Mas bem que eu queria umas roupinhas mais modernas. Detesto subir escada. Gastei uma nota na academia esse ano.
   Soube que teve um debate aí.
   A administração pública realmente anda péssima. Divide em oito vezes no cartão, por favor? Gosto de ser tratado com respeito. Furo fila. Me declarei doador de órgãos. Nunca tive tempo de doar sangue, e você?


**Primeira pessoa não indica necessariamente que estou falando de mim mesmo.  

Literatura, Música, Cinema?

  Da série: "estava lendo pessoas que (dói admitir) escrevem melhor do que eu e tive vontade de escrever eu mesmo". Adversidades: são quatro e meia da manhã. Combustível: sou um dos premiados com a greve das universidades federais brasileiras e não tenho absolutamente nada pra fazer, nenhum horário pra cumprir. Pra escrever, preciso, antes de tudo, de um assunto. Eu não vou escrever sobre a bendita greve porque só o SAC do Universo sabe o quanto eu já reclamei disso em todos os meios possíveis e imagináveis, da condução básica de ondas sonoras na atmosfera terrestre ao pé de página dos sites de "notícias".

   O assunto do momento são as Olimpíadas que acabaram e a próxima edição que acontecerá no Rio de Janeiro. Também não vou escrever sobre isso porque eu sou muito pedante e não gosto que reforcem o estereótipo que o Brasil já tem no exterior - mas é isso que gringo quer, e é isso que gringo vai ver; o que são as olimpíadas senão um grande espetáculo, em que um país exibe a sua cultura, o seu dinheiro, o seu poder, pra todos os outros? Uma pena não ter outro planeta pra Terra poder se exibir, ou aí é que veríamos um espetáculo enorme. A Olimpíada não é feita é pra nós. Acordem.

   Então eu vou escrever sobre as coisas que, aleatoriamente, surgiram na minha vida e me enfiaram na minha própria cabeça, nos momentos eu que eu estava em locais que não poderiam representar coisa nenhuma melhor do que representam a residência oficial do Satanás. Em ordem de importância:

   1. Livros:
   Eu me considero uma pessoa que gosta de ler, mas acho que li muito pouco na minha vida e sinto que o perdi a época em que teria mais tempo para isso - que era quando eu estava na escola, o que não representava nenhum desafio intelectual (sorry), então o meu cérebro estava em férias permanentes, com raras exceções. Por que eu não li tanto quanto deveria? Porque um livro custa um milhão de reais, porque a livraria mais próxima era longe demais (ponhas horas e horas de viagem para tal), porque os correios são uma corporação capitalista selvagem e eu sou um simples proletário que não dá conta de tanto frete. Mas eu li. Mais do que a maioria das pessoas.
   Mais da metade do que eu li foi fantasia e/ou literatura infanto juvenil. Tecnicamente, as li quando estava na idade a que são destinadas. Mas não acho que vou deixar de ler tão cedo. Escapismo, literatura que pouco acrescenta criticamente, blá blá blá. Tive a minha cota de clássicos também, alguns prazerosos, outros não. Agora, resta pouca fantasia boa - que esteja ou esteve no mainstream, logo, que seja acessível a maioria das pessoas, nas quais eu meu incluo - que eu ainda não tenha lido, então tendo a variar um pouco mais os assuntos. Aceitando sugestões, de preferência se você tiver o exemplar pra me emprestar.

   2. Música:
   Eu adoro cultura pop. E na música acho que é onde mais isso transparece. Não necessariamente os hits da semana da Billboard (agora, né!), mas tudo que um dia foi grandioso - e grandiosidade na música, ao meu ver, teve o auge nos anos 60/70/80 - e que acabou meio esquecido me dá vontade de conhecer - pela atmosfera, pelo estilo prevalente, pelo contexto. Hipster, né? Pois é, não. Não porque eu não me credito mais como fã de praticamente nada (excetuo aí Harry Potter - desde 2005 - e Michael Jackson - desde 2008, sim, ele tava vivo), o que não me faz cego pra muita coisa - o que me parece ser um dos pontos chaves desse conceito estilístico/musical hipster. Não porque eu consigo gostar de coisas atuais, não necessariamente boas, mas que estejam no lugar certo na hora certa - sem problemas admitir que gosto de algumas coisas que consigo enxergar claramente que são bem tosquinhas. Não porque não me considero diferente. Claro que pra época e lugar em que eu vivo, eu sou extraterrestre musical - estamos na era do Tchu Tcha Tcha (música que me proporcionou grande felicidade quando, com alguns colegas, fiz uma excelente versão gospel - vendo a gravação original, só me procurarem). Mas o problema não está em mim, se o resto das pessoas prefere ouvir música degradante, rimas pobres (substantivo/substantivo), e artistas com esse visual exótico, problema delas. Boa parte do tempo eu tô fazendo a mesma coisa, só que em outro idioma. Não escuto tanta música brasileiras porque a maioria destas ou é triste ou feliz demais, e isso é intrínseco do idioma, que tem palavras compridas que se adequam mais aos gêneros que contemplam tais estados de espíritos - querer fazer rock com língua portuguesa é pra poucos, como vocês podem confirmar com as experiências musicais recentes do mainstream do "rock nacional". Escuto música em inglês - sou um adolescente de classe média num país colonizado, o que se poderia esperar? De uma forma geral, prefiro Classic Rock dos anos 60/70, Pop dos anos 80 e o Indie/Alternative dos anos 90 e atuais. Eu poderia nomear um artista de cada e pronto, está aí o gosto musical mais óbvio do planeta Terra: o meu. Mas tem outros da mesma linha que eu gosto, então seria injusto - como se do fundo do túmulo deles, isso importasse. Sugiro que vocês comprem fones da Samsung porque são muito bons e que baixem Mr. Blue Sky porque eu estou viciado nela hoje. Aceito sugestões de qualquer tipo.

   3. Cinema:
   Agora já não são mais 4:30h, são 5h. E eu não tô realmente tão disposto a falar do meu gosto pra filmes. Então, basicamente: não é igual o seu. Não que eu não goste dos blockbusters que fazem sucesso e estardalhaço e blá blá blá, eu adoro. Mas eu prefiro filmes em que não aconteça nada de extraordinário e que não sejam muito longos, porque neles personagens podem ser mais interessantes que roteiros e na real, tristes as pessoas que não são mais interessantes do que a vida. Gosto de cinema Brasileira. Cinema Brasileiro. Não essa anomalia atual da vertente Bruno Mazzeo/Xuxa/Didi/Caceta e Planeta - isso é uma bosta e quem curte, pelo amor de Deus, melhore o seu senso de humor. Aliás, não gosto de comédias (no sentido orkutizado do gênero). Simplesmente porque coisas que são feitas com o objetivo específico de fazer alguém rir perdem o elemento surpresa e com ele vai junto a graça - raríssimas se salvam, quando a história contada se sobrepõe aos objetivos cômicos pontuais. Indico "Toto le heros" porque foi o último que eu vi e gostei, e também "Se nada mais der certo", filme brasileiro com todos os elementos clichês que a nossa nacionalidade pode proporcionar, mas que ainda assim vale a pena. Sugestões podem vir acompanhadas de um torrent com legenda.

Tchau e esse é o pior texto do blog.

quinta-feira, 8 de março de 2012

There and back again

Eu inventei de fazer esse blog justo agora quando quase ninguém mais tem blog (uma pena em certos casos, porque era legal nos velhos tempos) pra colocar coisas da minha vida pseudo renovada e da faculdade e tudo mais pra que depois eu pudesse voltar e ver como as minhas impressões sobre várias coisas teriam mudado e tal. Mas isso não aconteceu porque:

- Eu tinha mais o que fazer;
- Deveria ser boring pra alguém que não fosse o eu do futuro perdesse tempo lendo;
- Só sei escrever semi-críticas à sociedade e coisas sem sentido.

Daí eu resolvi fazer isso hoje simplesmente porque eu não sei mais o que falar da sociedade nem tenho adjetivos legais pra novas metáforas nem lirismo suficiente pra escrever nada viajante no momento e tem muito tempo que eu não atualizo isso aqui, tô com medo de cancelarem a conta (pois é). 

Então, vamos lá. Quando eu cheguei nessa vida de estudante fora de casa e medicina, etc., eu achava que: ia ser tudo muito bom, meio difícil porque ia dar trabalho pra por exemplo me alimentar direito (era minha principal preocupação) e que eu ia estudar algumas coisas que eu não ia achar tão legais no começo mas que não seria o martírio que era o ensino médio, que eu ia sair pouco e que provavelmente não teria muita gente que tivesse a ver comigo pra eu fazer amizades realmente duradouras e tudo mais. 

Agora eu acho que: não é tudo muito bom, é tudo muito difícil e eu realmente ligo mais de não ver muita que eu tenho (pasmem) saudades do que ter que jantar doritos de vez em quando (dependendo da época de vez em sempre mesmo). E realmente eu estudei algumas coisas que eu não achei legais no começo e que depois de continuar estudando eu achei menos legal ainda, na verdade que eu odiei mesmo e vi como é diferente estar na faculdade e estar na escola. Primeiro que o professor pode fazer da sua vida um inferno só por filha da putagem e você não tem pra quem reclamar, segundo que ele pode fazer a matéria ser a melhor ou a pior, terceiro que eles fazem você acordar de manhã e tomar banho frio e FALTAM. A maioria das coisas eu posso dizer que gostei até de ter estudado, algumas foram sim um martírio quase tão horrível quanto física, química (parte inútil) e história de sergipe - mas pelo menos eu sentia a utilidade da coisa. E com relação a saídas, eu acabo nem saindo tanto e abandonando quase por completo diversos hábitos boêmios e a vida social se resume em ir na casa dos amigos jogar ou sair pra lanchar e até muito bom assim.

Tive várias aulas práticas, mas bem menos do que eu imaginava que teria e nem aquela coisa toda do Laboratório de Dexter, é legal a primeira vez, a segunda, a terceira, na quarta ficar em casa dormindo é melhor, dependendo do professor. No começo eu achava super legal olhar lâminas histológicas no microscópio, até eu ver que eu não via (!) quase nada ali por causa do meu daltonismo e cinco graus de miopia e era um tormento ficar 2, 3, às vezes 4h olhando pra uma coisa que na minha concepção filosófica silvio-santonista não existia (afinal, só acredito vendo). 

As aulas práticas de anatomia com cadáveres eram bem macabras e u gostava no começo, mas depois eu comecei a não curtir tanto porque era muita gente pra ver uma coisa e tudo era dito muito rápido - só era legal quando eu já tinha estudado e sabia o que estava sendo apontado antes de falarem (o que surpreendentemente aconteceu na maioria das vezes). Houveram algumas discussões éticas entre nós mesmos sobre o cadáver que estava lá servindo pra gente e tal, mas pouco tempo depois a gente já começou a tratar por "peça" - parece meio frio mas é o que acontece em todo lugar, eu acho. O mais chato era o cheiro insuportável de formol, que às vezes tava muito forte, às vezes suportável. Mas logo eu me acostumei também, parei de usar máscara e minhas lentes de contato protegiam meus olhos. Acostumar não é gostar. 

Aconteceram algumas práticas diferentes, como Eletrocardiograma da qual eu fui uma (não tão) feliz cobaia - porque eu sou muito tímido pra semi nudez na frente da sala inteira mas quem não? Aprendi a "tirar" pressão como dizem as pessoas menos informadas, o que é bem sem mistério. E recentemente aprendi a fazer coloração de gram em bactérias, pra saber se são positivas ou negativas (o que ajuda a direcionar o tratamento do infectado). É legal porque é quando você vê que o que é prendido na teoria serve pra prática de verdade, e cada aula que passa parece que tudo vai ficando mais focado no que vai ser a profissão de verdade e tudo o mais. Também por duas vezes tivemos que mexer com animais pequenos (camundongos) ou não tão pequenos (ratos mesmo) - uma vez pra atestar a eficácia de alguns fármacos e na outra, além disso, fizemos uma dissecação completa e cheguei a conclusão que ratos são mini seres humanos porque é tudo muito igual mesmo (nas estruturas internas e por vezes no comportamento, risos).

E também vi duas autópsias, uma completa e outra só no final. Achei bem tenso, não gostei tanto pra falar a verdade  na hora não tive medo, nem inibição, nem nojo (só do cheiro), nem nada, tenho que aproveitar tudo que aparecer cientificamente o máximo possível. Até cheguei mais perto, toquei todos os órgãos, procurei anormalidades fisiológicas (junto com os outros e com orientação do professor claro, não sou esse ninja todo... ainda!), e ajudei na dissecação do cérebro. Mas é meio tenso, não me imagino no lugar daquela pessoa. 

Nas férias tive o big plus de assistir umas cirurgias nos Hospitais Cirurgia (público) e Primavera (privado high class) de Aju; comprovei que os cirurgiões de um e de outro são os mesmos, assim como os anestesistas e enfermeiros, então não acho que a atenção terciária do SUS esteja deixando a desejar na questão recursos humanos quando se tem acesso a ela - o difícil é a demora pra ser atendido em um contra o atendimento quase imediato no outro. Outra coisa é a estrutura física. O SUS funciona com o mínimo possível, não tem conforto nenhum pros pacientes e profissionais, e tudo o mais, enquanto a saúde privada é uma coisa bem à lá Princeton Plainsboro (aquele hospital do House), com canhões de luz que parecem naves espaciais de Star Wars e equipamentos que poupam bastante trabalho dos médicos (anestesista por exemplo) e salas de repouso com várias comidinhas e TVs gigantes e macas pra dormir. E consegui ver algumas coisas que eu só tinha visto em cadáver em estado de putrefação avançada (essa a situação das pessoas do anatômico) em pessoas vivas, o que é muito mais interessante. Cirurgia é demais!

Não sei mais o que escrever porque foi tanta coisa ao longo de um ano que eu poderia passar outro ano só falando do que aconteceu. Foi o ano que eu mais estudei, mais fiquei nervoso e menos dormi na vida. Não sei se eu continuo sendo a mesma pessoa do ano passado, acho que sim, só um pouco mais acostumado com como é a vida de verdade (de "adulto") e acredito que agora o resto dos meus 27 anos será desse jeito mesmo, nada de voltar pra casa nem de parar de estudar ou dormir tanto quanto antes (o que eu vou sentir muita falta e compenso nas férias). Ah, e passei a assistir mais filmes do que antes, apesar que assim acabo assistindo alguns que eu não gosto tanto, mas o saldo geral é positivo.

Tchau!

domingo, 9 de outubro de 2011

That Bridge is On Fire


                Além das colinas do norte, existe um lugar extremamente descomplicado no qual as atendente de telemarketing não utilizam vícios de linguagem e os fios dos fones de ouvido não se enroscam em torno de si mesmos, as pessoas não fazem medições antes de delimitarem seus terrenos e é você que escolhe a música do seu vizinho. Este lugar é também o mesmo lugar em que as pessoas guardam as suas opiniões para si próprias e em que a inflação fica abaixo da meta do governo. Nos dias em que cai, a chuva aguarda gentilmente que seus futuros frutos molhados vistam suas capas de chuva e abram suas sombrinhas para então descer de forma perfeitamente vertical, não molhando as canelas cansadas dos mesmos.
                As caixas dos supermercados retribuem os sorrisos de seus fiéis compradores, que encontraram a marca e produtos desejados e não enfrentaram fila para pagar pelos mesmos. Em casa, os fogões trabalham na temperatura ideal para que não queimem o preparado ao mesmo tempo em que permitem a seus supervisores conversarem ao telefone sobre algum assunto realmente importante e instigante. Todas as noites, o sono chega em seu devido horário e o horário de acordar também chega de forma conveniente. O vento sopra a fumaça dos cigarros para longe daqueles às quais a mesma não apetece e estas então ultrapassam a estratosfera sem contribuir para as emissões de carbono.
                As diferentes divisões da região ao norte das colinas do norte respeitam uma à soberania da outra e de vez em quando competem em esportes realmente elaborados, aos quais as pessoas dão apenas a importância devida. Nas datas comemorativas, as subdivisões familiares se isolam umas das outras e evitam ondas maciças de constrangimento para seus membros menos vividos, ao mesmo tempo em que os presentes são acertados em sua maioria e os amigos secretos são realmente amigos e secretos.
                Receio, entretanto, que este não seja o lugar em que vivemos.
Ao sul das colinas existe um lugar em que as ruas não estão completamente asfaltadas, os alísios do noroeste trazem fuligem das fábricas chinesas para as vias aéreas dos recém nascidos, que acabaram de sair da barriga repleta de colesterol de suas adoráveis mães, que estão deitadas em macas respingadas de vômitos moribundos em quartos de hospitais não devidamente vistoriados pela vigilância sanitária. É neste lugar também em que veículos de comunicação pagam para que outros divulguem neles suas opiniões esdrúxulas a respeito de obras de arte cujo sentido é obscuro e que nem mesmo seus criadores conseguiram descobri-lo de forma satisfatório (de fato, muitos deles apenas cochilaram no processo de transcrição da Mona Lisa e acabaram criando algo que revolucionou as tendências vanguardistas).
Neste lugar, o governo não distribui fones de ouvido e existe certa liberdade individual que permite aos vizinhos escolherem suas próprias músicas, bem como o volume em que as irão escutar e o horário. As chuvas caem sem aviso e nas ruas não completamente asfaltadas formam poças d’água invisíveis – ou que eram invisíveis até você se dar conta de que pisou numa delas. As filas dos supermercados carentes de qualidade neste lugar ao sul são tão grandes que sorrisos estúpidos nem ao menos são dispensados pelos fiéis compradores às suas encarecidamente invisíveis atendentes para agilizar o processo e possibilitar a todos chegarem às suas casas o mais rápido possível, onde atenderão aos telefonemas das atendentes de telemarketing que utilizam tantos vícios de linguagem que fariam até mesmos as obras de arte resultantes de cochilos não planejados dos artistas abortados fazerem certo grau de sentido.
Talvez porque não foram bem alimentadas, pois enquanto discutiam assuntos realmente importantes e realmente entediantes, os fogões carbonizaram seus preparados, ou talvez porque as vias de transporte andam tão congestionadas nesses últimos meses chuvosos, tem-se que o sono das pessoas não consegue chegar a tempo do horário correto. Entretanto, as desigualdades sociais inerentes do processo de colonização permitem ao horário de acordar tomar um caminho mais rápido e chegar a tempo de ser inconveniente. As pessoas não dormem bem. 
Talvez por causa dos gastos exagerados do governo em relação a esportes não tão bem arquitetados, que envolvem pessoas vestidas em roupas com fios de prata aderidos correndo em campos de trigo cuja produção de grãos é extremamente deficiente e buscando acertar esferas em locais que realmente não exigem tamanha boa pontaria, o fato é que há anos a inflação vem ficando acima da meta. Mas isso não é nada que preocupe, contanto que as comemorações ocorridas após os incríveis eventos esportivos sejam extremamente desproporcionais ao seu impacto global na vida dos habitantes da região sul.
Devido às aglomerações familiares resultantes das datas comemorativas, toneladas de plástico são produzidas e transformadas em presentes, entregues aos futuros donos embebidos em perguntas constrangedoras sobre coisas em que as pessoas costumam evitar pensar a respeito de si mesmas, mas que ganham contornos irresistíveis quando se trata dos outros. É claro, como os sorteios dos amigos secretos raramente favorecem aos verdadeiros amigos tais presentes costumam não ser de grande uso, e logo mais tarde se juntam aos agregados de carbono derivados das fábricas chinesas, que não atravessam a estratosfera, juntamente com a fumaça dos cigarros (não sem que esta, é claro, fosse antes borrifada pelo vento na cara de algum alérgico), e só tornam a região sul alguns graus ainda mais quente.
Receio que seja este o lugar em que vivemos. 

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Between Chaos and Creation

    Tudo que você vê, tudo que você sente, os lugares por onde anda, com quem você se depara, quem assalta você, quem compra o seu celular roubada, quem corre pra pegar o ônibus, quem não liga pro ataque cardíaco do vizinho, quem não tem por quem chorar, quem não tem quem chore por ele, quem pode sair por aí, quem tem que ficar em casa, quem joga o álcool, quem acende o fósforo, quem apaga a fogueira, quem se queima.
    Respirações que soltam fumaça, carruagens que transportam sinos, motos voadoras com gigantes, cometas de fogo afunilados, cicatrizes esculpidas, tatuagens amareladas, folhas marrons e céus cinzentos. Todas as sinuosidades achatadas de um mundo que concorre com si mesmo pra sobreviver. Velocidade e máquinas, coragem e imprudência, vontade e obsessão, beleza e futilidade, felicidade e alegria, tristeza e depressão, raiva e triunfo, dedos e unhas.
    Porque se o lirismo está ali, fazer sentido é redundância. Máquinas do tempo que nos levam pro passado que é o futuro repleto de de Déjà Vus, perdedores que ganham o tempo todo, vencedores que não conhecem o pódio, heróis covardes e covardes heróis, holismo parcial, juízes cegos.
    Só que tudo continua igual, o sol é o mesmo, os átomos no universo também, dias longos e anos curtos, e as respirações que não soltam fumaça e não puxam mais ar.

Porque em inglês é tudo mais fácil


Like a river that can fly
Like a bird that just swin
Like a dancer that can paint
Like a lover that can hate

You keep going on
But it's because you can't come back
Home, home, home, home

Don't cheat yourself
Your dreams will never come true
Unless they depends only of you
And if you're a lucky man

Keep you on the under
Up to the thunder
Go to the light
Fight to fly
Run and run again

There is no hope
In that stupid land

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Não Corra para a Luz, Abstração Conceitual que Anda por aí Fingindo ser um Fantasma

    'Cause I don't think you're special, I don't think you're cool!
    A frase não teve o impacto desejado (mas que frase boa era aquela!), não houve risadas sinceras pr'aquela piada, o que dura para sempre (nada) acabou (sim, o que era nada - apesar de dizerem por aí que nada dura para sempre - acabou e se tornou menos do que isso - pra se ser nada, tem que se ter o conceito do que seria ser, e quando esse se perde, não é que não seja nada, simplesmente, não se é), a filosofia não teve seguidores, não houve votos suficientes na eleição, não havia cargos para os quais se candidatar, e todos caímos num loop infinito em que vamos e voltamos sem sair do lugar e chegamos enfim a uma grande epifânia que não nos revela absolutamente nada, apenas que não é possível. O que não é possível? Pra que querer saber, se não é possível que aconteça?
    E as rodas dos carros continuam rodando, assim como as das bicicletas, os bebês continuam nascendo, os cometas continuam cortando o espaço sideral, as estrelas regredindo em buracos negros hiperdensos que absorvem para si até mesmo a luz (alguém mais conhece pessoas assim?), os árabes continuam em guerras, todos inconscientes dos eventos conspiratórios que governam os tons de cinzas das nuvens que farão chover, metaforica e literalmente falando, os pingos grossos de chuva ácida sobre as nossas cabeças.
    E não importa o quão rápido se corra, nem todos foram feitos pra ganhar a maratona. Não importa quantos drinks você tome, quantos cigarros você fume, nem sempre a sua consciência vai sair por aí pra passear enquanto você se diverte (esquece). Você pode até descontar sua raiva nos outros, mas nem sempre isso vai fazer você perder a fome.
    Estamos todos perdidos, indo e voltando para os mesmos lugares, buscando as coisas que perdemos quando a lua atraiu demais a terra e a órbita elíptica foi de tal forma alterada que viramos de cabeça pra baixo e o que estava em nossos bolsos foi parar em nossos bolsos, mas em calças diferentes.
   É permitido se entediar lendo seu livro preferido.
   Trazer a autorização para viver devidamente assinada, do contrário se tornará um ser humano. Enfim.