sábado, 30 de abril de 2011

Frívolos

    Quando a manchete do dia é um casamento, alguma coisa está errada. As pessoas acordam, caminham, falam, caminham, falam, falam, falam, caminham, dormem e acordam para um novo ciclo. No meio desses ciclos que duram em média uns 70 anos (se você não viver na Etiópia onde não existe nada ou for algum rockeiro foda que sempre morre com 27 anos), algumas coisas importantes acontecem. O casamento de outra pessoa que você não conhece, por exemplo, não é uma delas. Mas todos não podem perder um único detalhe porque... porque... porque somos pessoas desocupadas e fúteis.
   Em algum ponto da evolução, os seres humanos desenvolveram a desagradável habilidade de falar. A única utilidade dessa função que não seria facilmente substituída pela escrita é a sua função como unidade de medida na minha vida - o "falômetro". Pra mim, a felicidade do meu dia é inversamente proporcional ao número de palavras que eu falo - pois essas se destinam à responder algo que alguém veio me perguntar (iniciar uma conversa eu mesmo é quase um pecado). Isso porque de uma habilidade que é 80% inútil e desenvolvida por pessoas desocupadas e fúteis, nada que preste vai surgir.
    E as conversas das pessoas girando em torno de casamentos idiotas, jogos idiotas, sapatos idiotas, atestados de óbitos idiotas, e por aí vai. Obviamente, se o seu tímpano apresenta surdez seletiva e você não participa delas, você é o estranho, o antissocial, o futuro psicopata. Só o que consola os seres pensantes da atualidade é o fato passarmos 1/3 da nossa vida dormindo.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Regret

    A vida é feita de escolhas. Nobel pro gênio que inventou essa frase, né? Não. Mas então, claro, ao menos que a sua escolha tenha sido largar a faculdade de administração em Harvard e fundar a Microsoft e virar o cara mais rico do mundo, você pode se arrepender ocasionalmente. É o que acontece comigo todos os dias.
   Se eu levanto logo que acordo, me arrependo de não ter dormido mais vinte minutos porque em 80% das vezes eu sou a única pessoa que não se atrasa pros meus compromissos então eu chego lá cedo e tenho que ficar esperando, sendo que poderia ter dormido mais. Obviamente, se eu resolvo dormir os 20 minutos, aí temos as 20% das vezes em que todo mundo chega na hora, menos eu, e claro, me arrependo de não ter levantado logo.
    E a gente tem que escolher as coisas tão cedo na nossa vida. Você tem que escolher onde vai sentar no primeiro dia de aula, e há grande chance de os seus amigos dos anos seguintes dependerem dessa escolha porque geralmente eles são os que acabaram sentando do seu lado. Você tem que escolher se vai querer pastel ou cochinha no lanche daquela tarde, e isso pode lhe dar alguns minutos de satisfação ou uma infecção intestinal seguida de colostomia e morte.
    Você tem que escolher se você prefere o Paul McCartney ou o John Lennon ou se você vai ouvir Parangolé mesmo e ajudar a destruir o mundo, enfim. E você tem que arcar com as conseqüências e olhar pra trás e se arrepender, porque você poderia ter sentado do lado das pessoas que foram pra NASA, você poderia ter dormido mais pra não cochilar na aula de metodologia científica, você poderia ter comido pastel de queijo VOCÊ PODERIA TER FEITO OUTRA FACULDADE E ESTAR EM CASA BEBENDO VODKA E COMENDO A COMIDA DA SUA MÃE, você poderia ter poder falar bem da carreira solo do john lennon [você estaria mentindo para si mesmo, mas isso não vem ao caso]. Você poderia.  
     Mas você não o fez, então, se você não fundou a Microsoft, vá estudar que a vida não tá fácil pra ninguém, não, Josué.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Sua vez de lavar os pratos

    É sabido pra quem é interessado na minha vida - um número de pessoas maior do que eu gostaria - que eu ando morando apenas comigo mesmo - mas nem sempre os nosso horários batem - e com alguns hipogrifos que passam por lá ocasionalmente. O fato é que não é fácil morar sozinho, justamente por causa da facilidade intrínseca que a solidão traz.
   O despertador toca. Se você não acordar, ninguém vai vir mandar você acordar, então você acordar só se você quiser. Na verdade você já está acordado, o problema é levantar e tomar banho. Banho gelado. Mas você tem a tal consciência, a coisa mais inútil jamais inventada, e aí você acaba indo todos os dias, atrasando no máximo uns 15 minutos.
   Você está na faculdade. Mais do que isso (mals aê), você está na faculdade de medicina. As pessoas te tratam diferente quando ficam sabendo disso, muito legal né? Na verdade é um saco. "Vai se especializar em quê?". Isso é, tipo, o mesmo que perguntar pro presidente recém eleito o que foi que ele já fez de bom para o país - quer dizer, essa é uma pergunta fácil, se ele disser "não fiz nada de bom" tem 88,3% de chances de acertar. Então, tia, eu não sei no que eu vou me especializar, mas quando eu souber eu aviso e você vai lá marcar uma consulta e não, eu não vou te dar desconto.
    Mas você está na faculdade, logo, você tem professores universitário, que são como quaisquer outros professores universitários. Eles trabalham tanto que ocasionalmente esquecem de trabalhar. Obviamente ele só lembrará que esqueceu depois de duas horas e meia, aí ele liga e avisa que vocês podem ir pra suas casas e que o banho gelado daquela manhã foi inútil porque não ai ter aula nenhuma. Enquanto isso, desenvolvem-se as matérias optativas da faculdade - gartic, uno, baralho, socialização ou experiências com apnéia do sono. Mas não se preocupe, essa aula será reposta em algum horário inconveniente pra você.
    Hora do almoço. Você come a comida da sua mãe desde que você nasceu, começando pelo leite - a menos que você tenha sido renegado e tenha tomado leite nas tetas da cabritinha, como já dizia o poeta daquele vídeo de 200X que circulava por aí. Mas agora você vai ter que comer a comida da tia do restaurante, que ocasionalmente te coloca numa dieta forçada, o que é muito grave quando o seu IMC é negativo, colocando menos do que você anda querendo no momento. Ou então fazendo você comer demais. Pelo menos não é mais sua vez de lavar os pratos.
    O professor da tarde comparece à aula. Você estuda legal, talvez faça alguma coisa interessante - apertar a língua de uma peça anatômica (sim, um defunto, sim você já mexeu com defuntos, antes que as tias perguntem) em corte sagital, pelo menos pra mim, é algo interessante, não sei pra vocês.
    O seu dia chega ao fim, você vai lá no outro restaurante comer sopa se ele já não tiver fechado quando você finalmente consegue fechar o twitter. Se ele tiver fechado você come Cheetos mesmo, porque Fandangos é sempre mais caro e sempre só tem aquele de multi cereais que dá sede e como roubam os seus yakults da geladeira, você só anda bebendo água mesmo.
    Você vai dormir e como você não arrumou a cama de manhã porque a sua mãe não mandou, você não tem trabalho nenhum em fazer isso. Daí o despertador toca. Mais cento e vinte e cinco minutinhos?

Open the Door

And let'em in

   Então, resolvi criar esta puerra mais porque eu não tinha o que fazer na hora do que por real vontade de expor minha inexistente veia literária para o mundo. Sem pretensão de assunto, sem função ou propósito. Mas é sempre bom ter um blog pra falar da sua vida e desabafar quando algum desconhecido rouba o seu yakult da geladeira ou você se vê dentro do cenário de jogos mortais 3D ou você faz quinze anos pela quarta vez. 
   Se você leu até aqui, é porque você não tem o que fazer, e se você não tem o que fazer, pode voltar aqui ocasionalmente. Não que eu vá ligar se você não vier - aliás isso pode nunca ser lido e o você não existir, ou pode ser encontrado só daqui a oito mil anos por naves alienígenas de Ursa Menor Beta e ser interpretado como um documento muito valioso da raça humana; então, só por via das dúvidas, queridos aliens - não necessariamente extra-terrestres -, I am just the walrus.