domingo, 1 de maio de 2011

Os Cults de 13 Anos

Pseudum intelectus

    A heterogeneidade das pessoas hoje em dia é incrível. Todos escutam o que a mídia manda escutarem, agem da mesma forma, condenam quem difere um dedinho da linha, são insuportáveis e abdicam da dádiva de usar seus respectivos cérebros sempre que seguir os outros é possível. Mas quando estão na internet, tudo muda. 
    Todos são como uma brisa, não perdem a glória de chorar, têm idéias revolucionárias que irão mudar o mundo. São todos fãs de Clarice Lispector - um ou outro leu A Hora da Estrela, o resto só copiou a filosofia do 'Quem Sou Eu' do Orkut de algum desconhecido -, Caio Fernando Abreu [boa: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=155452], ouvem Nando Reis, Los Hermanos, The Beatles (é minha banda preferida, mas tem uma legião de 'fãs' que...), são Trotskistas e têm uma camisa do Che Guevara. Seres de uma enorme complexidade interna, cujas idéias poderiam ser transformadas em um belo filme, uma película densa e vísceral, que levaria multidões às lágrimas.
   Mas essas mesmas pessoas engrossam as fileiras que seguem o trio elétrico de axé, dos que aprendem a coreografia dessas poesias que surgem anualmente com o carnaval, e dos que chamam de estranho quem prefere sentar e ler um livro de fantasia do que ir pra roda de pagode sagrada dos sábados.
   Eu até acho legal as citações que as pessoas usam pra se descrever, mas elas não se aplicam em 95% dos casos. Seria ótimo se aplicassem as idéias comunistas revolucionárias de verdade - eu até tenho as minhas, mas é sabido por todos que eu prefiro ficar em casa assistindo Chaves do que sair por aí mudando o mundo, e que a minha camisa do Che Guevara na verdade tem uma foto do Seu Madruga. As músicas que eles escutam não são ruins de uma forma geral, mas eles não as ouvem porque gostam delas - como alguém pode gostar de Time - Pink Floyd e ao mesmo tempo se jogar com Meteoro da Paixão?
      E aí a gente não quer nem saber. "Os misantropos expressam uma antipatia geral para com a humanidade e a sociedade, mas geralmente têm relações normais com indivíduos específicos (familiares, amigos, companheiros, por exemplo). A misantropia pode ser motivada por sentimentos de isolamento ou alienação social, ou simplesmente desprezo pelas características prevalecentes da humanidade/sociedade". 
    E assim caminha a humanidade, com uma frase de paz do Papa João Paulo II na ponta da língua mas a epifania que não sai da mente: "Se me odeia, deita na BR".

2 comentários:

  1. nossa, Raul, a cada post se expõe um escritor diferente (com vários entendimentos,com várias perspectivas etc), e cada dia vão se soltando aquelas palavras inseridas nas frases geniais que aquele Raul Rodrigues Barros citava quando eu estudava com ele, enfim

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